Em 1989, com a carta Aspectos da Meditação Cristã, a Congregação para a Doutrina da Fé alertou para a dificuldade de padronizar estilos de meditação cristãos e não-cristãos. Ainda em 2003, em Uma reflexão cristã sobre a “Nova Era”, o Pontifício Conselho para a Cultura recordou que “a Igreja evita qualquer conceito semelhante aos da Nova Era”. Em última análise, alertamo-nos contra a tentação, por mais tentadora que seja, de ir diretamente a Deus, dando-nos programas de jornada espiritual de forma puramente subjetiva, sem nos compararmos com ninguém. O indivíduo afirma ser sacerdote de si mesmo, ter um conhecimento que impacta Deus e salvar-se pela concentração, pelos rituais e pelos bons sentimentos. São Paulo já tinha tido que recordar este aspecto aos cristãos da comunidade de Colossos, na carta escrita durante a sua prisão em Roma. Mesmo escrevendo a Timóteo “Só existe um Deus, e só existe um mediador entre Deus e os homens, o homem Cristo Jesus”, afirma categoricamente, deixando definitivamente de lado qualquer concepção mítica de religião.

A vida consagrada é um dos frutos que melhor evidencia a fecundidade e a beleza da grande árvore na qual somos enxertados através dos sacramentos da iniciação cristã. A graça do Baptismo dá-nos a filiação divina e esta experiência regeneradora é preservada e alimentada através da Confirmação e da Eucaristia, sacramentos que marcam uma experiência existencial consciente e sempre crescente desta filiação baptismal. Quando há chamada a uma forma de vida de especial consagração, esta graça pode e deve produzir «cem vezes mais» (cf. Mt 13,8). O profeta diz bem: “O Senhor me chamou desde o ventre de minha mãe, desde o ventre de minha mãe chamou o meu nome” (Is 49,1). Ainda mais propriamente, isto pode ser dito referindo-se ao ventre materno da Igreja que nos gera para a vida em Cristo, nos nutre Dele e nos enche do Seu Espírito.

Misericórdia: é a palavra que revela o mistério da SS. Trindade. Misericórdia: é o ato final e supremo com que Deus vem ao nosso encontro. Misericórdia: é a lei fundamental que vive no coração de cada pessoa quando olha com olhos sinceros para o irmão que encontra no caminho da vida. Misericórdia: é o caminho que une Deus e o homem, porque abre o coração à esperança de ser amado para sempre, apesar das limitações do nosso pecado”. O caminho quaresmal é a busca do rosto de Deus que, muitas vezes, a catarata do nosso orgulho nos impede de ver; de facto, a Quaresma é um sacramento que dura quarenta dias em que tudo o que Jesus realizou na sua vida terrena passa por osmose, como uma transfusão na nossa vida. O sacramento é um sinal visível no qual podemos experimentar a presença concreta de Cristo Jesus que cura, perdoa, nutre, fortalece a nossa vida e sobretudo nos torna capazes de amar.