Com fiel observância da Lei Mosaica, José e Maria introduzem seu filho no plano salvífico do Pai. esta é a tarefa perene dos pais
de Mons. Silvano Macchi
TEntre os acontecimentos da infância de Jesus, o Evangelho de Lucas recorda a purificação de sua mãe e a apresentação do menino no templo.
É uma passagem longa e complexa (Lc 2-22) que é proclamada na liturgia tanto na festa da Apresentação (Candelária) como na da Sagrada Família.
A cena do Evangelho – que é a continuação natural da circuncisão e da imposição do nome – descreve toda a Sagrada Família reunida no templo de Jerusalém, lugar onde a Lei Mosaica encontrou seu cumprimento. A Lei em si é o cerne de toda a passagem; de fato, o termo aparece cinco vezes, tanto em referência ao sacrifício oferecido em nome da mãe, quanto em relação ao rito da apresentação de Jesus, que eram as duas prescrições inseparáveis em vista da purificação após o nascimento de cada criança do povo judeu.
A insistência de Lucas não visa, evidentemente, propor o respeito de um formalismo jurídico, mas sim preparar a passagem da Lei para Jesus Cristo através da aceitação do Espírito Santo, como o apóstolo Paulo claramente demonstrará: «Quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sujeito à Lei, para resgatar os que estavam sob a Lei, a fim de que recebêssemos a adoção de filhos. E, porque sois filhos, Deus enviou aos nossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai" (Gl 4-4).
Deixarei de lado os versículos relativos à purificação da mãe, assim como a história do encontro com o justo e temeroso Simeão e a piedosíssima viúva Ana, para me concentrar na figura de José ou, mais amplamente, nos gestos realizados pela Família de Nazaré.
Podemos supor que Maria e José estavam impacientes para levar Jesus ao templo, não apenas para obedecer à Lei, mas também para saber mais sobre seu filho. Assim, São Lucas nos mostra os primeiros e importantíssimos passos dados pela Sagrada Família, quando José e Maria foram ao templo buscar instruções de Deus para cumprir com cuidado e gratidão a tarefa que lhes havia sido confiada, difícil então como agora: ser pais.
Deveria ser assim para todos os pais e mães, mesmo em nossos dias. Apresentar o “templo” às crianças deve nos ajudar a entender quem uma criança realmente é e responder a algumas perguntas fundamentais: Que bênção é uma criança? Que grande tarefa o filho propõe ao pai e à mãe? Como ser bons pais? Perguntas sempre válidas, mas particularmente atuais e urgentes em um período de “emergência educacional” como o nosso. Seria realmente necessário que os pais encontrassem no “templo”, isto é, nas comunidades cristãs, pessoas com sólida experiência (como Simeão e Ana) ou talvez algum sacerdote que “veja longe”, que esteja cheio do Espírito Santo, para pedir com confiança para ser orientado e iluminado na educação cristã dos seus filhos.
Foi o que, segundo suas tradições, Maria e José também fizeram por meio dos gestos e ritos que realizaram, mostrando assim que eram autoritários porque eram obedientes e, portanto, capazes de ensinar ao filho a beleza da ordem que governa o mundo. Nesse sentido, Maria e José representam bem a tarefa que toda mãe e todo pai devem assumir com responsabilidade.
Muitas vezes os pais preferem não se impor, mas dessa forma falham em sua tarefa de autoridade, talvez se justificando com banalidades e clichês da cultura dominante. Em vez disso, um pai e uma mãe – gostem ou não – são uma autoridade para seus filhos, eles representam aquele sistema de relacionamentos, tradições, memórias, exemplos que se tornam uma raiz sólida e um princípio de estabilidade. Eles não podem se afastar, deixando o crescimento e a educação dos filhos a cargo dos relacionamentos com os colegas.
Ser “autoridade” significa prestar um serviço, isto é, fazer compreender que a vida não pode se desenvolver segundo o desejo ou o prazer, mas deve ser orientada para o bem na perspectiva do crescimento humano e da formação cristã.
Voltando à história do Evangelho, depois de terem cumprido os ritos da Lei que inserem plenamente o menino Jesus no povo de Deus, a Sagrada Família retorna para casa. A passagem termina com um versículo que resume toda a infância de Jesus até os doze anos: “O menino crescia e se fortalecia, cheio de sabedoria; e a graça de Deus estava sobre ele” (Lc 2). Desta forma, a assistência divina é enfatizada: o Pai cuida dele não só porque o ama, mas também porque tem um projeto para ele, e Jesus, amparado desta forma, cresce e se fortalece.
Não sabemos mais nada sobre esse período; somente os evangelhos apócrifos tentarão preencher essa lacuna de forma imaginativa. Maria e José voltam a ser obedientes e conscientes de sua tarefa: tornam-se instrumentos dóceis da obra de Deus que forma e faz crescer aquela criança na graça e na sabedoria, para prepará-la para sua tarefa na vida.
São José, que nas Ladainhas é chamado decus da vida doméstica, “decoro da vida doméstica”, ajuda os pais a cuidar dos filhos, a educá-los com serenidade e harmonia, a encaminhá-los pelos caminhos do bem, para que cada lar e cada família não sejam um refúgio, mas um lugar onde com liberdade e amor se aprendem os valores fundamentais da vida, a primeira e decisiva escola onde se aprende a tornar-se verdadeiramente “grande”.