Mas no meio desta maioria indiferente, o olhar minucioso dos sociólogos está sempre a identificar o grupo menor mas crescente daqueles que são chamados de “crentes diferentes”. Como pensar conscientemente no Nada pode ser perturbador, parece que há um aumento daqueles que “acreditam em um deus impessoal que domina a existência diária das pessoas”. São aqueles que formam por si mesmos a própria imagem de Deus, para responder de alguma forma ao “pedido de interioridade”.
Ao ler sobre essa “descoberta sociológica” nos jornais, espontaneamente me veio à mente um belo discurso de São Bernardo (De acquaeductu, Ópera Omnia, editar. Cisterc. 5) de onde extraímos algumas citações e ideias.
O santo abade adverte antes de tudo contra a alegria pelos resultados de tal religiosidade ou interioridade. Na verdade, recorda-nos que Deus vive numa luz inacessível e, portanto, como adverte São Paulo (cf. Rm 11), não se pode “conhecer os seus pensamentos”. O caminho da religiosidade poderia, pelo contrário, conduzir a objectivos erróneos e talvez até perigosos: «Que ideia poderia o homem ter de Deus, senão a de um ídolo, fruto da imaginação?».
Sendo assim, Deus interveio para oferecer a sua solução: «Deus teria permanecido incompreensível e inacessível, invisível e completamente inimaginável. Em vez disso, ele queria ser compreendido, queria ser visto, queria ser imaginado." Não só ofereceu uma ideia ou uma doutrina de si mesmo, mas como os sentidos do intelecto operam primeiro no homem, Deus quis oferecer-se aos próprios sentidos, à visão e à audição: «Onde e quando Ele se faz visível para nós ? Precisamente no presépio, no colo da Virgem…”.
Afinal, São Bernardo nada mais faz do que recordar o anúncio do anjo aos pastores no primeiro Natal: «Não tenhais medo, eis que vos trago uma boa notícia de uma grande alegria, que será para todo o povo: hoje no cidade de Davi, nasceu para você um salvador, que é o Senhor Cristo. Este é o sinal para vocês: encontrarão um menino envolto em panos, deitado numa manjedoura”.
E esta é a conclusão que ele propõe: «Não será talvez uma coisa justa, piedosa e santa meditar neste mistério? Quando minha mente pensa assim, ela encontra Deus lá." Afinal, é uma simples invenção de Francisco de Assis em Greccio; é a proposta sempre presente da Igreja, que nos chama a ver Deus, olhando o Verbo encarnado nos braços de Maria e feito pão nos altares.