Porém, levando em conta uma certa oscilação entre os dois termos, também podemos utilizá-los aqui como sinônimos.
Sendo a dor, em todas as suas formas e graus, um evento complexo que diz respeito a toda a pessoa, e não apenas à parte por ela afetada, sempre foi objeto de questionamento não só pelas ciências médicas, mas também pela filosofia e pela ética, pela psicologia e sociologia, teologia e espiritualidade.
Doença e dor
Uma situação de vida em que a dor é facilmente vivenciada é o momento da doença. Quando chega, a percepção de bem-estar corporal que se desfruta quando há saúde transforma-se em mal-estar, acompanhado em grande percentagem de casos pela vivência de dores físicas com maior ou menor intensidade. Sem dúvida, a presença da dor é o que mais torna doloroso o quadro de doença e motiva a sua rejeição.
Se, ao surgir uma dor repentina e inesperada, a pessoa fica atônita, surpreendida por algo inesperado e que sempre traz uma novidade, no caso da dor recorrente pode-se pensar em uma certa habituação, não apenas pela capacidade inata de adaptação que o homem possui, mas porque faltaria o caráter de imprevisibilidade e é quase “esperado” que aconteça. Mas na realidade este não é o caso. Principalmente a dor persistente, que ultrapassa a capacidade de tolerar, absorve completamente as forças do doente, drenando também as energias mentais e espirituais que lhe permitiriam enfrentar de forma construtiva a agressão da doença. A expressão “enlouquecer de dor” expressa de forma extremamente adequada e eficaz o excesso de sofrimento que pode até afetar o equilíbrio mental.
Quando nem mesmo os medicamentos conseguem eliminá-la, a dor se amplifica e se espalha por toda a pessoa, espalhando-se por contágio do corpo para o espírito. De sintoma meramente orgânico transforma-se então em “dor total”, onde a dor do corpo e a dos sentimentos se misturam e se fundem, até atingirem a mente e a alma. Nesta condição de “dor total”, parece que absorve completamente todas as energias e o resto da vida da pessoa, o mundo externo e interno, como se nada mais pudesse existir e importar.
Inutilidade da dor?
A primeira atitude de relevância ética diante da dor é a sua condenação. É mau, opõe-se ao desejo inato do homem de bem-estar e de vida plena, por isso deve ser condenado e, se possível, eliminado. Mas é sempre apenas uma coisa ruim? A dor é imoral? A dor é inútil? Deveria ser eliminado a qualquer custo?
À primeira vista, deveríamos responder afirmativamente. O instinto e a vontade do homem de escapar da dor fazem com que tudo o que é feito para esse fim seja considerado eticamente bom. Mas a reflexão ética não pode contentar-se com esta primeira resposta instintiva. Embora seja certamente imoral adquiri-lo ou impô-lo, é mais difícil determinar se pode ou não desempenhar um papel positivo nas nossas vidas.
Mesmo considerando apenas o ponto de vista orgânico, desempenha – pelo menos inicialmente – uma função positiva: é como o sinal de alarme lançado pelo organismo de que algo está ameaçando a nossa integridade física. Ainda mais complexa é a sua avaliação a nível existencial. Aqui a experiência da dor pode ter um carácter ambivalente: pode destruir o homem, mergulhá-lo na solidão, fazê-lo regredir psicologicamente, levá-lo ao desespero, à loucura; pelo contrário, pode ser um estímulo para crescer, para descobrir novos valores, pode impulsionar a solidariedade, tornando-se um caminho de realização mais plena da própria vida (foi o caso, por exemplo, de Cristo, dos mártires...). O pensador contemporâneo Salvatore Natoli expressa sucintamente esta ambivalência: «Se não perecemos, crescemos através da dor».
Para o mundo clássico antigo, a dor promove o conhecimento do homem sobre si mesmo e sobre o mundo. É bem conhecido o aforismo grego: “O homem é um aprendiz e a dor é seu mestre”. Ou a frase de Esopo (na fábula “O Cão e o Cozinheiro”): «As dores são lições».
Mesmo para o filósofo ateu F. Nietzsche, a experiência da doença e da dor favorece uma mudança de vida na pessoa, estimula-a a passar da superfície para a profundidade, do estado adolescente para o da maturidade: «Só a grande dor é a extremo libertador do espírito (…). Duvido que a dor “faça você melhorar”, mas sei que ela penetra profundamente em nós.”
Outro filósofo, o francês Maurice Blondel, compara a dolorosa experiência ao ato do agricultor que espalha a semente na terra; isso deve apodrecer para ser frutífero. É o que nos acontece: «A dor é como esta decomposição necessária ao nascimento de uma obra mais plena. Quem não sofreu por alguma coisa não sabe nem ama (…). O significado da dor é revelar-nos o que escapa ao conhecimento e à vontade egoísta, para ser o caminho para o amor eficaz.”
Mas a dor só pode produzir um efeito positivo se for aceite; quando é rejeitado tem o efeito oposto: «Estraga, azeda e endurece aqueles que não consegue suavizar e melhorar» (M. Blondel). Aqui a aceitação não deve ser entendida como uma resignação passiva, ou uma renúncia a fazer todo o possível para evitá-la e aliviá-la. Mas como uma disposição para integrar experiências de dor em toda a nossa vida, como uma parte dela não apenas quantitativamente, mas também qualitativamente relevante.
Lute contra a dor
Em todas as épocas, o homem nunca deixou de lutar contra a dor, e tudo o que fez para melhorar as dolorosas condições de existência deve ser considerado eticamente bom. Mas na era moderna, graças às conquistas extraordinárias da ciência e da tecnologia, o homem não se contenta em dominar e aliviar a dor, gostaria (por vezes afirma) eliminá-la definitivamente. É o sonho de toda sociedade materialista: uma vida sem dor ou em que a dor seja um acidente que sempre pode ser resolvido.
Do mundo romano recebemos este aforismo: «Divinum est sedare difficilem». Numa época em que existiam poucos remédios para a dor e tudo o que dizia respeito à vida do homem era atribuído aos deuses, da mesma forma que a presença do mal era atribuída à intervenção de uma divindade maligna, o alívio da dor só poderia ser invocado por um deus benevolente. Este aforismo indicava, por um lado, que o alívio da dor excede as capacidades humanas, por outro, que é um ato altamente desejável e apreciável: quem consegue fazê-lo ascende a uma dignidade superior e é digno de gratidão e louvor.
A dor deve, portanto, antes de mais nada, ser combatida, em todas as suas expressões. Este é também – para os crentes – o ensinamento do Evangelho e da Igreja. Jesus sempre fez o possível para vencer o mal em todas as suas formas e expressões. A sua paixão e a sua morte não foram causadas por ele mesmo, foram-lhe infligidas pela violência e pela oposição dos seus adversários: ele as sofreu em coerência com a sua escolha de amor e de doação radical ao Pai e a nós. A sua liberdade consistia não em procurar o sofrimento para si, mas em não recuar diante da perspectiva inevitável dele. De resto, Jesus sempre se comprometeu a combater o sofrimento, através da cura e da pregação do amor misericordioso de Deus, demonstrando claramente que Deus não quer que os homens sofram, mas que tenham vida e a tenham em abundância, isto é, que estão felizes.
Da regra de ouro da ética, que exige “fazer o bem – evitar o mal”, derivam dois comportamentos igualmente zelosos: evitar a dor evitável, portanto antes de mais nada causá-la, e aliviá-la tanto quanto possível; e ajudar adequadamente aqueles que sofrem com isso.
Falaremos sobre isso em artigos futuros.